segunda-feira, 20 de outubro de 2008

À um Irresponsável Colunista

Na edição 170, de 29.09.2008, da revista TRIP o colunista Henrique Goldman escreve um artigo entitulado "Carta aberta para Luisa"(http://revistatrip.uol.com.br/coluna/conteudo.php?i=25613), onde se desculpa por ter feito sexo com a empregada da familia, contra a vontade dela, quando tinha quatorze anos.
Depois de inúmeras cartas e e-mails de repúdio, a revista e o colunista pediram desculpas por não ter avisado que era um artigo fictício, "esclarecendo" "que considera inaceitável qualquer forma de assédio ou violência sexual."
Mas o estrago já estava feito!
Será que estes "formadores de opinião" desconhecem o país machista em que vivem???
Desconhecem a quantidade de trabalhadoras, domésticas ou não, que realmente sofrem assédio sexual; a quantidade de mulheres, adolescentes e crianças, assediadas por padastros, vizinhos, amigos, parentes; a quantidade de mulheres agredidas por seus parceiros; a quantidade de mulheres importunadas nas ruas, e ainda culpabilizadas por conta das roupas que usam ou do jeito que falam e agem??? Isso pra citar só algumas situações.
E isso sem considerar pormenores, que de menores nada tem:
Infelizmente o machismo nos impregna desde crianças, em escolas, creches, igrejas, parquinhos, na rua ou em casa, por conta da aceitação e incentivo de um comportamento para os homens e o rechaço quando o mesmo comportamento é tido por mulheres, em relação as brincadeiras, ao comportamento, a namoro e traição, ao rolê na balada, as tarefas em casa, a sexualidade, ao trabalho formal, ao esporte, a política, etc..
Em nossa sociedade "livre" a mulher ainda vai trabalhar e tem obrigação de cuidar da casa, d@s filh@s... o marido, no máximo, a ajuda, como se a casa e @s filh@s não fossem dos dois.
O homem acha-se dono da mulher, decidindo roupas que ela pode usar, lugares onde pode ir, pessoas com quem pode andar, definindo seu comportamento como aceitável ou não.
Pequenas "gentilezas" são praticadas e incentivadas, como carregar um móvel, fazer uma instalação, resolver problemas em geral, tomar decisões sobre questões difíceis... "gentilezas" que só fortalecem um estigma de minoridade, fragilidade, incapacidade intelectual, exagero emocional, etc..
Revistas "femininas" tratam de aparência, moda, consumo, corpo, comportamento, beleza... "conscientizando" mulheres a portar-se como as modelos das capas das revistas masculinas...
A tal "libertação sexual" das mulheres, propagada na grande mídia, não as emancipou, e sim induziu um comportamento sexual muitas vezes irresponsável e banalizador, reafirmado todos os dias nos meios de comunicação.
O que não percebeu o colunista é que o problema do machismo na sociedade é muito maior do que escrever um artigo real ou fictício. É uma questão de luta por reconhecimento dos direitos das mulheres em todas as instâncias, momentos, ações, participações, vivências, decisões, trabalhos, etc., da sociedade.

Nenhum comentário: