segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O Povo em Luta: BELO MONTE - CANUDOS

Hoje, 6 de outubro de 2008, completam-se 111 anos da total destruição da cidade rebelde Belo Monte - Canudos.
Uma das poucas guerras brasileiras que se pode chamar, realmente, de popular, o conflito ocorreu entre 1896 e 1897, no interior da Bahia. Eram estas pessoas, gente pobre e explorada que já não podia aguentar mais a fome, a miséria, as doenças, e tudo mais que era relegado ao povo nordestino, pelos "senhores" do Brasil.
Unidos na pessoa de Antônio Conselheiro, beato cristão que acreditava que os rumos que o governo tomava estavam em desacordo com a vontade Deus, e por isso reuniu o povo para a construção de uma cidade onde reinasse a fé, o trabalho e a fraternidade, essas pessoas criaram uma cidade que era um modelo político, econômico, religioso, social e estrutural diverso daquele de onde vinham, onde não se podia beber, drogar-se e cada um/a devia trabalhar para sí e para tod@s. Chegaram a viver lá cerca de 30 mil pessoas.
Mas, como em todos os casos onde o povo pobre se levantou contra o modelo de sociedade imposto, o Estado brasileiro viu neste ato uma "ameaça aos interesses do país".
Tratando o povo de Belo Monte como monarquistas, bandidos, hereges, assassinos e negando-lhe até mesmo o nome da cidade, chamando-a de Canudos, o recém proclamado governo republicano enviou toda a força que podia de seu exército, para destruir a cidade.
No entanto, há uma sutil diferença entre quem luta por sua vida e quem luta por um salário.
As tropas militares precisaram realizar 5 incursões, em quatro grupamentos diferentes, para destruir Belo Monte. As três primeiras foram completamente derrotadas pelos sertanejos, a quarta teve avanços mas sofreu baixas, unido-se então a outro grupamento para realizar a quinta e derradeira investida. O exército utilizou-se de canhões, bombardeios aéreos e fuzis contra guerreiros que utilizavam facão.
Não houve preservação de vidas por parte dos soldados brasileiros, que mataram e degolaram todos os guerreiros de canudos, mulheres, idos@s e crianças, exceto 300 mulheres e crianças que se entregaram, no decorrer das batalhas.
Ao final dos combates, em 5 de outubro, os quatro últimos guerreiros de Belo Monte foram mortos e degolados: dois homens jovens, uma criança e um velho. O cadáver de Antônio Conselheiro, falecido em 22 de setembro, foi exumado e teve a cabeça arrancada, para ser levada a capital como prova da derrota de Belo Monte. No dia seguinte, todas as moradias, as igrejas e casebres foram incendiados e anos depois uma represa foi construída sobre o que restou da cidade.
Canudos, como entrou pra história, ficou marcada como a cidade de um louco fanático religioso e seu bando de bandidos. A história "oficial", como sempre, tenta esconder a realidade da luta daquel@s homens e mulheres: Uma luta pela sobrevivência, contra um sistema de exploração e injustiça, baseado na soberania dos ricos.
E a liberdade destas pessoas de cuidar de suas vidas, de organizarem-se como quisessem, tanto política quanto social e economicamente, teve como resposta a intolerância, o assassinato, a destruição!
Em honra e homenagem a memória destas pessoas, por sua luta pra construir um modelo diverso ao existente, resistindo e pagando com a vida por isso, a sala principal do Espaço Cultural FACA passa a chamar-se: SALA BELO MONTE - CANUDOS.

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