domingo, 26 de outubro de 2008

Morreu Mais Um...

Texto por Elânia Lima, militante contra a ditadura do pensamento único, da zona sul.

Mataram ele;
Eu não vi quem foi, mas tinha gente na hora e me contaram.
Foi assim: eram mais ou menos três horas da tarde, chegaram dois caras num carro, cada um com uma pistola na mão, quem viu, disse que era meio automática, eles avistaram a vitima, chegaram bem perto e PÁ PÁ PÁ
Saíram andando como se nada tivesse acontecido, como se não tivessem matado ninguém, como se fosse normal, na certa já deviam ter matado muitos naquele dia, o foda é que não dá nem pra culpar os caras, afinal era notório que cumpriam ordens.
E o pior é que eu passei ali de manhã e ainda cheguei a ver o dito cujo vivo. Eu tava no busão e olhei pra ele, tava alí, quietinho, sabe quando alguém ta quieto, mas seu silêncio fala mais do que se gritasse? Pois é, era ele quando eu o vi...
Parecia que observava algo, mas não deu pra ver por que ele estava de costas, mas o seu modo de sentar mostrava que estava calmo, apenas observando...
Ah meu, sei lá o que ele via... Talvez olhava por olhar, ou talvez via algo tão inebriante que seus olhos não se cansavam de contemplar a paisagem, ou quem sabe, ele próprio sabia o que a tarde lhe reservava. Deu vontade de levar pra casa, mas não dá né? E mesmo se desse, não é justo, ele tava tão “de boa” tão na sua que é injusto... Até comentei com um cara do trampo: “Na ida te mostro ele...” mas não deu tempo... mataram antes...
E eu desconfio do mandante... Por que não foi o primeiro que mataram... Tá rolando um assassinato em série desse tipo...
O pior é que a gente não consegue fazer nada, fica meio sem ação, afinal o tal do mandante não dá suas caras... Apenas manda matar e acabou...
Então é por isso que eu tô de luto, por que ele morreu hoje, por que agora toda vez que eu passar por aquela avenida eu vou saber que um dia ele tava ali, na sua, de boa, mostrando que a vida é feita de cores e não só do cinza...
Hoje aquele grafite morreu, mas sabe de uma coisa??
Amanhã ele renasce de novo e de novo e de novo...

Por que quem é bom renasce do cinza!!!

* Esse texto é dedicado a todas as obras do amigo e grafiteiro Those que sempre são assassinadas pela frieza do cinza da nossa cidade.

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