terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Um Pouco da História II


México, 1º de Janeiro de 1994


Após muitos anos de exclusão do povo indígena e pobre de toda a vida social, política, educacional, cultural, econômica e humana, prevendo a piora da situação com a inclusão na Nafta e a mercantilização dos Ejidos sem o consentimento da população mexicana, os Zapatistas "pegaram em armas para poder disparar a palavra" e tomaram a cidade de Chiapas, no sudoeste do México.
A ação foi um passo de um trabalho desenvolvido por quase trinta anos nas matas e na serra, junto às tribos indíginas, mais precisamente junto às mulheres indígenas, já que no princípio percebeu-se a dificuldade de lidar com os homens e que as mulheres, apesar do machismo, eram quem garantia a sobrevivência das famílias.
Com uma nova idéia do processo de luta armada, os Zapatistas não querem tomar o poder, como as guerrilhas predecessoras, mas sim construir, no trabalho do dia-a-dia, uma verdadeira democracia, com participação do povo e com o objetivo de governar para o povo e não contra ele. Coisa esta, que já é realizada na prática dentro das comunidades Zapatistas.
A decisão desta ação teve como estopim, fora tudo o que já foi dito anteriormente, a mercantilização dos Ejidos, que eram as terras de direito familiar e de uso coletivo, garantidas como reservas às comunidades indígenas. Os Ejidos não podiam ser vendidos ou negociados, e eram uma das poucas coisas que garantia a sobrevivência de comunidades totalmente abandonadas a margem da sociedade mexicana. Com a mercantilização "legalizada" junto a entrada na Nafta, as população indígenas zapatistas não viram mais alternativa a não ser a radicalização e a defesa armada de suas comunidades.
Muitas tentativas de diálogo se iniciaram, inclusive com mediação internacional, mas sempre chegaram a nada por conta de constante ação militar e paramilitar, incentivada e financiada pelo governo mexicano, onde os Zapatistas não podiam deixar a atenção militar para dar atenção institucional. Outras ações iniciadas pelos Zapatistas, como os encontros internacionais e os encontros com a sociedade civil mexicana, foram utilizados como meios para tentar o diálogo, não só com o governo mas com o mundo.
Desde o inicio do levante, o exército mexicano nunca deixou os limites de Chiapas rebelde, e os grupos paramilitares, como Máscara Vermelha e Paz e Justiça, já realizaram atentados até mesmo em igrejas dentro das comunidades, como no massacre de Acteal em 1997, quando 45 indígenas da etnia Tzotziles foram assassinados enquanto rezavam.
Durante as eleições mexicanas, os Zapatistas iniciaram "A Outra Campanha", em que uma caravana correria o país, realizando discussões sobre liberdade, democracia e justiça, levantando, por exemplo, o debate na sociedade mexicana sobre os verdadeiros motivos de o Partido Revolucionário Institucional estar no poder há 68 anos, num país onde havia democracia. No entanto, diversos ataques e assassinatos nas comunidades Zapatistas sempre tornaram tortuosa a tarefa de deixar a defesa do povo enfraquecida.

Sugerimos como leitura, a fim de entender um pouco mais do processo Zapatista:

EZLN, Passos de Uma Rebeldia, de Emílio Gennari;
A Revolução Invencível, organização de Massimo Di Felice e Cristobal Muñoz;
Mudar o Mundo Sem Tomar o Poder, de John Holloway.

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